Dia 24 de Outubro de 2014. Iate Clube de Aratu, 22:06 hrs.
Depois de um dia voltado a organização do Veleiro, onde pela manhã peguei um engarrafamento forte para comprar o rotor da rabeta do motor para o bote de apoio, estou sozinho nas mesas do restaurante do Iate Clube de Aratu. O trabalho de selecionar o que vai fora e o que pode ser aproveitado é cansativa. Todo barco, de proa a popa está sendo visto, cada paiol cada ferramenta está sendo colocada em um local adequado. A vistoria de todas peças, cabos, ferramentas é essencial para conhecer o veleiro. Tudo que você necessitará tem que estar em sua cabeça, de forma organizada.
Mas agora é noite, e estou em minha hora mais silenciosa. Ao longe escuto sons de sapos, grilos, água caindo de algum lugar que não sei qual é.
Estar longe de onde vivemos, das pessoas que amamos, das filhas, da família, dos amigos, e estar assim sozinho nos remete a pensamentos filosóficos.
Somos um ser único, solitário, nascemos sós e morremos sós. Ao longo de nossas vidas temos ligações com pessoas e situações que muitas vezes nos fazem dependentes, apegados e carentes. Gostaria muito de crer que as ligações entre pessoas fossem amor, um amor verdadeiro, e não necessidade, onde dois seres se unem para suprimir suas deficiências. Não me isento destas nuances da vida, que parece atacar as pessoas em algum momento. Mas tenho certeza que muitas ligações são verdadeiras e reais. Amor não pode ser confundido com carência.
Mas velejadores muitas vezes sentem necessidade de estarem sós, não conhecemos este termo: velejador solitário! Significaria uma necessidade de ser auto suficiente? Seria uma prova de que é capaz sozinho? Seria uma vontade de conversar consigo, e com tudo? Como com peixes e com o mar?
Estar sozinho é se deparar consigo mesmo, com seus medos e anseios, sem a máscara e as maquiagens que a sociedade nos oferece para nos escondermos de nós mesmos. Na maquiagem das relações muitas vezes falsas, escondemos o medo de dormir sozinho, de ter que se ouvir. Escutar qualquer coisa nos diverte e entretêm, como ir a um cinema.
Mas quem pode se entreter consigo mesmo? Quem é auto suficiente em seus medos?
Dormindo em meu barco, sozinho, sem televisão, ao apagar a luz, eu sou meu! Lido com meus medos e me equilibro nas minhas certezas. Os medos e bloqueios se vão quando os encaramos, mas quem está pronto para os encarar?
O navegador solitário está sendo imunizado das doenças da vida moderna sendo ele mesmo, funcionando como uma vacina com efeitos colaterais, mas que passam, e as doenças também....
Contribuo assim para uma visão pessoal sobre estar solitário e velejador solitário, mas deixo claro que o Vagabond é um barco social, e todos são bem vindos. Sou social, como sou solitário, yin e yang....opostos se complementam!
Velejador e escritor dentre outras aptidões. Belas reflexões filosóficas. Abraços!
ResponderExcluirCristóvão Freitas - Poa RS